Caderno de Direção #10
Este
final de semana visitei a cidade de Raposa, no Maranhão. Lá é o nosso campo de
pesquisa para montagem de “A vida por um fio” com o XAMA teatro. Procurava
histórias, lendas, personagens pitorescos e as origens da cidade... Fui “atrás
de conversa” e encontrei. Os mais velhos me contaram inúmeras lendas e relatos
que tinham a renda e o mar como pano de fundo, todavia, quando perguntava, enfim:
-
E os mais jovens, se interessam por isso?
A resposta era negativa.
Toda
aquela memória estava condenada ao esquecimento, pois tais narrativas, mesmo se
registradas por um bom escritor, perdem a essência quando deixam de ser
contadas. O “contar”, o gesto do “contar”, vem perdendo sua importância para
construção de uma identidade local. Deste verbo, a TV, infelizmente, tomou de
conta. Os jovens não se interessam mais por estas simples histórias, porque
elas, dolorosamente, não têm tiro, bandido, efeitos especiais, sangue ou explosão
- a fórmula mágica do cinema americano.
É
claro que nenhuma narrativa oral poderá competir com os efeitos das
grandes telas. Mas a questão em si não é a tecnologia, a fidelidade da imagem
ou os recursos utilizados: é o olhar que se projeta sobre determinado fato e a
propriedade sobre ele. Podemos vê-lo como expectador, mas podemos ter uma dimensão
mais profunda quando o vivemos e o tocamos com nossas palavras. Quando contamos
algo e quando ouvimos alguém contar, podemos, a qualquer momento, intervir,
questionar ou até emendar outra versão. Trata-se do relato que, à medida que se expande,
demanda de nossa visão de mundo e transforma quem ouve e quem fala.
A
televisão troca o ‘contar’ pelo ‘mostrar’. A fluidez da comunicação cessa
diante deste bloqueio. A tela é, querendo ou não, uma espécie de parede.
Cais da Raposa |
Contemos,
portanto, meus senhores, minhas senhoras, contemos para conter!
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